segunda-feira, 28 de novembro de 2011

SEDE

Imagem: Marcelo Fedrizzi, fotógrafo

De Adriano Antunes, "SEDE".

Longo é o caminho que percorro a procura de respostas para indagações antigas. Percurso intransferível que gera desconforto, totalmente compreensível, como sentir sede no deserto. O viver ensina, e a todo instante surge nova peça desse quebra-cabeça gigante, composto por inúmeros efeitos sem aparente causa. Sigo a dica dos testados, ato contínuo, inicio pelos cantos sem noção de centro, remonto a causa pelos efeitos, esforço paciente. Ontem, asas amarradas ao solo; hoje, tentativas de vôo raso, rápido, observo maravilhado, a sede de busca que sempre habitou em mim.

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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Projeto

Imagem: Google

De Adriano Antunes, "Projeto"

Um encontro rápido, insólito em seu propósito: alinhar rosto, espelho e o silêncio.Pelo canto do olho, espio o passado. Gaveta na qual depositei muitas inquietações. Percebo que o tempo mira-me, sorrateiro. Eu o respeito. Pergunto-lhe: Como serei daqui a alguns anos? Quais caminhos precisarão ser trilhados? Quantas palavras sairão desta boca que hoje balbuciam sílabas envoltas em creme dental? Silêncio. Um sentimento de piedade me envolve e eu também silencio. Aos poucos surge o desejo de renovação, minha e do mundo, sou tijolo dessa humanidade; não estou só, mesmo quando não aceito, me modifico. Talvez, quando eu , lá adiante, já estiver com certa dificuldade para andar, com olhos enfraquecidos de tanto ver e minhas palavras adquirirem mais doçura, como o calor do sol no entardecer, poderei olhar para trás, exatamente como faço hoje, e constatar tranquilo que, qual corajoso navegador, consciente de sua responsabilidade, tracei uma rota e, agradecido, me despeço do continente, que vejo desaparecer ao longe, por entre brumas.  

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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Brilhantes




Imagem: Google

De Adriano Antunes, "Brilhantes".

Nunca esquecerei a Via Láctea, uma mulher distinta, que em duas ocasiões conversou comigo e entortou meu pescoço em direção ao céu. A primeira vez que a vi foi nos arredores de Curitiba. Um lugar bem alto e quase desabitado. A sensação de que poderia tocá-la foi indescritível. Ela apareceu com todas as suas jóias. Posso dizer que queria me impressionar, afinal, era o nosso primeiro encontro, olho no olho, e obviamente conseguiu.
A segunda, foi nas proximidades de Novo Hamburgo. A noite estava linda, a temperatura agradável, o barulho da cachoeira quebrando o silêncio. Lá estava ela, trajada para dançar. Linda, com outras jóias, desta vez mais discreta mas não menos bela. Me apaixonei, perdidamente!
Desde então procuro, em noites claras, recordações da divina dama. Como plebeu que sou, sei que me aguarda no topo da montanha para mais uma noite de confissões embaladas pelo silêncio. Ao seu lado, me sinto eterno. Da planície almejo a subida para poder por mais um instante rever a eterna amada. E o silêncio falará por nós!

sábado, 15 de outubro de 2011

Ampulheta

Imagem: National Geographic


De Adriano Antunes, "Ampulheta".

Mesmo quando vagando em dores
Trazem no olhar a alegria das cores
No corpo, o perfume das flores
No peito, um colar de pendores
E se, dos admiradores, tu não fores
Um desavisado a só ver temores
Compreenderia que nos dissabores
Afloram do íntimo todos os fatores
Para os mais altos patamares
Pois nessa vida de árduos labores  
Pode ainda a música clamar amores
Escondidos nos panos do tempo.

domingo, 2 de outubro de 2011

Chakras


De Adriano Antunes, “ChaKras”.

Com sete centros principais
De energia sutil, pulsante
Num corpo que pouco dura
Segue seu rumo o viajante.
Todas as sensações desse frágil corpo
Os três  inferiores governam
Mas na caminhada de elevação da alma
São os três superiores  que imperam.
Seu mediador amoroso
Distribui de baixo para cima
A vitalidade criadora da terra
E em sentido contrário
A luz da misericórdia Divina.
Quando de egoismo está repleto
A energia vital se acumula
Luz alguma, por ele  passa
Colhemos o que plantamos
Sofrimento e amargura
E reclamamos de nossa desgraça.
Mas quando deixamos o coração
Executar seu nobre papel
Juntando o que é da terra
Com aquilo que vem de Deus
Unimos  corpo e  alma
Construindo o próprio céu!
[.] 

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sonho de Íris

De Adriano Antunes, "Sonho de Íris".

No ponto mais alto da montanha
A torre de janelas pequeninas
Observa o entardecer das cores
No lume dos dias
E sonha em vento, livre folha
Fugir de suas dores,
Partir sem despedidas [.]

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Som do Meu Coração


De Adriano Antunes, "O Som do Meu Coração."

O som do meu coração
Quem diria... sofreria
Na existência, conflitos
No compasso, sobressaltos.

O som do meu coração
Que só agora reconheço
Reaparece devagarinho
Entre dúvidas e tropeços.

No som do meu coração
Residem desde o começo
Leituras do tempo/espaço
Beethovens, Vivaldis e Chopins.

O som do meu coração
Em equilíbrio com o universo
É quadra simétrica, poema perfeito
Sinfonia divina ou singela oração.

Imagem: Google 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Suspenso


De Adriano Antunes, "SUSPENSO."

Pássaro que flutua no ar
Na inexistência da razão
Sobrevoa o chão
Sem sombra a espelhar.

Não cumpre pena
Nem "Karma" sustenta
Movido pelo instinto
Vive o quanto aguenta.

Mas dias existem...
Que seu canto o sol desperta
Com vontades lá de cima

(...)

 de postes, de árvores, de nuvens.


Dias existem... que o pássaro deseja ser astronauta.


                                                                                                         Imagem:  Soichi Noguchi - Quebec city