terça-feira, 30 de outubro de 2012




De Valmir Adriano, "Assobio".


"Que a alegria não seja uma utopia
 Apenas uma cotovia a cantar no balcão."

(...)

terça-feira, 12 de junho de 2012

Imagem: Google


De Valmir Adriano, "O Lago".


Sabe, não dá para medir nosso trabalho íntimo pelo interior dos outros e muito menos pelo exterior. Somos todos capengas, mancos e coxos tentando fazer o melhor de acordo com o que possuímos de perseverança e vontade.
Não raro nos acomodamos preferindo o conforto em detrimento do que se deve fazer. Um mergulho em nós é algo deveras profundo, causa medo e na maior parte do tempo preferimos uma boia para ficar na superfície esquecendo que nossos pés estão tocando, por vezes, a lama do fundo de nosso lago pessoal. Se os pés se movem, ora ou outra, o lodo sobe, mesmo que apenas turvando um pouquinho a água.
Não se deixe medir pela medida dos outros.
Em um canteiro, naturalmente, existem plantas saudáveis e ervas daninhas. Ele não se torna um canteiro de ervas daninhas se possui algumas plantas sadias, pois não se faz aí a totalidade.
A sabedoria está em dar ouvidos ao que as pessoas possuem de bom, em detrimento do que possuem de ignorância, e nos esforçar para arrancar de nossos canteiros as "nossas" ervas daninhas, trazendo plantas sadias para embelezá-lo e torná-lo útil.
Eu acredito na espiritualidade acima de todos. E o grande desafio é separar o joio do trigo... e ficar com o trigo, é claro.
Sei que sabes de posturas que talvez tenham decepcionado pessoas e por extensão você, ouvido confidente, mas é um aprendizado e nos mostra que uma imagem idealizada é um engodo, seja na balada, no super, na faculdade, no trabalho ou onde for.
Você sabe do que eu estou falando.
Precisamos nos preocupar em ser pessoas melhores, em oferecer o melhor de nós, e não, não mesmo, em uma atitude por vezes infantil, achar que somos merecedores apenas do que as pessoas tem de melhor. Elas nos dão o que possuem, ou melhor, apenas o pouco que acham que possuem, pois na totalidade dos casos, não se conhecem.
O mais importante é não usar isso como desculpa.
O tempo passa, a estrada continua, mas o deslocar é de cada um, assim como a chegada.


(.)

terça-feira, 3 de abril de 2012

Confetes

Imagem: Google 


De Valmir Adriano Antunes, "CONFETES".

     Nas profundezas, entre destroços e náufragos nascituros, imaginava-se escafandro a observar formas piscianas, que iam e vinham. Diluíram-se em água de parto. Pulmões... desejava; desejava romper com a superfície, cilindros com capacidade limitada. Era vento, foi sopro, sopro de vida, mas perdera a capacidade de soprar. Decidiu, ato continuo, mergulhar em si; aquático, apático, patético; feito profético... silêncio. Pensou não mais ventar. Mas uma força o impulsionou à superfície (talvez a mesma que o convocou ao mergulho) dilatando seus pulmões-balões; a percorrer seu céu; azul marítimo. Notou-se brisa ao molhar os pés nas águas do passado, causando-lhe cócegas... e, seu riso levantou as folhas, do calendário. Neste dia ventou peixes-confetes.

(.)

domingo, 29 de janeiro de 2012

Simples Assim

Imagem: Google


De Valmir Adriano, "Simples Assim".


Sinceramente... Enquanto eu procurava coisas cada vez mais complexas para satisfazer meus desejos, na maioria das vezes sem sentido, caía em agonia pois julgava que era merecedor de muito e recebedor de nada.
Quando resolvi encarar que para receber é preciso ser merecedor, vi o quanto estava enganado a respeito de mim mesmo, e envergonhado, busquei o simples pois julgava dessa forma não estar exigindo mais do que eu poderia desejar.
Mas nessa volta, acabei por descobrir que no simples, na falta de exigências, no deixar vir, no respeitar o tempo e a natureza das coisas, existia algo que jamais tinha provado... a paz de estar comigo por inteiro, a alegria das coisas singelas, a saciedade do pouco que vale muito.
Hoje percebo cada vez mais o grau de exigências absurdas que assimilamos no nosso dia a dia, não por necessidade mas por osmose.
Viver com simplicidade não é ser pobre ou não ter ambição.
É como uma roupa bem cortada que não precisa de uma estampa chamativa para ser vista, nem botões dourados para dizer que é cara. Ela simplesmente veste... "veste bem".
E a pessoa fica mais bonita e nem sabe o porquê.


(.)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

SEDE

Imagem: Marcelo Fedrizzi, fotógrafo

De Adriano Antunes, "SEDE".

Longo é o caminho que percorro a procura de respostas para indagações antigas. Percurso intransferível que gera desconforto, totalmente compreensível, como sentir sede no deserto. O viver ensina, e a todo instante surge nova peça desse quebra-cabeça gigante, composto por inúmeros efeitos sem aparente causa. Sigo a dica dos testados, ato contínuo, inicio pelos cantos sem noção de centro, remonto a causa pelos efeitos, esforço paciente. Ontem, asas amarradas ao solo; hoje, tentativas de vôo raso, rápido, observo maravilhado, a sede de busca que sempre habitou em mim.

(.)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Projeto

Imagem: Google

De Adriano Antunes, "Projeto"

Um encontro rápido, insólito em seu propósito: alinhar rosto, espelho e o silêncio.Pelo canto do olho, espio o passado. Gaveta na qual depositei muitas inquietações. Percebo que o tempo mira-me, sorrateiro. Eu o respeito. Pergunto-lhe: Como serei daqui a alguns anos? Quais caminhos precisarão ser trilhados? Quantas palavras sairão desta boca que hoje balbuciam sílabas envoltas em creme dental? Silêncio. Um sentimento de piedade me envolve e eu também silencio. Aos poucos surge o desejo de renovação, minha e do mundo, sou tijolo dessa humanidade; não estou só, mesmo quando não aceito, me modifico. Talvez, quando eu , lá adiante, já estiver com certa dificuldade para andar, com olhos enfraquecidos de tanto ver e minhas palavras adquirirem mais doçura, como o calor do sol no entardecer, poderei olhar para trás, exatamente como faço hoje, e constatar tranquilo que, qual corajoso navegador, consciente de sua responsabilidade, tracei uma rota e, agradecido, me despeço do continente, que vejo desaparecer ao longe, por entre brumas.  

(.)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Brilhantes




Imagem: Google

De Adriano Antunes, "Brilhantes".

Nunca esquecerei a Via Láctea, uma mulher distinta, que em duas ocasiões conversou comigo e entortou meu pescoço em direção ao céu. A primeira vez que a vi foi nos arredores de Curitiba. Um lugar bem alto e quase desabitado. A sensação de que poderia tocá-la foi indescritível. Ela apareceu com todas as suas jóias. Posso dizer que queria me impressionar, afinal, era o nosso primeiro encontro, olho no olho, e obviamente conseguiu.
A segunda, foi nas proximidades de Novo Hamburgo. A noite estava linda, a temperatura agradável, o barulho da cachoeira quebrando o silêncio. Lá estava ela, trajada para dançar. Linda, com outras jóias, desta vez mais discreta mas não menos bela. Me apaixonei, perdidamente!
Desde então procuro, em noites claras, recordações da divina dama. Como plebeu que sou, sei que me aguarda no topo da montanha para mais uma noite de confissões embaladas pelo silêncio. Ao seu lado, me sinto eterno. Da planície almejo a subida para poder por mais um instante rever a eterna amada. E o silêncio falará por nós!

sábado, 15 de outubro de 2011

Ampulheta

Imagem: National Geographic


De Adriano Antunes, "Ampulheta".

Mesmo quando vagando em dores
Trazem no olhar a alegria das cores
No corpo, o perfume das flores
No peito, um colar de pendores
E se, dos admiradores, tu não fores
Um desavisado a só ver temores
Compreenderia que nos dissabores
Afloram do íntimo todos os fatores
Para os mais altos patamares
Pois nessa vida de árduos labores  
Pode ainda a música clamar amores
Escondidos nos panos do tempo.

domingo, 2 de outubro de 2011

Chakras


De Adriano Antunes, “ChaKras”.

Com sete centros principais
De energia sutil, pulsante
Num corpo que pouco dura
Segue seu rumo o viajante.
Todas as sensações desse frágil corpo
Os três  inferiores governam
Mas na caminhada de elevação da alma
São os três superiores  que imperam.
Seu mediador amoroso
Distribui de baixo para cima
A vitalidade criadora da terra
E em sentido contrário
A luz da misericórdia Divina.
Quando de egoismo está repleto
A energia vital se acumula
Luz alguma, por ele  passa
Colhemos o que plantamos
Sofrimento e amargura
E reclamamos de nossa desgraça.
Mas quando deixamos o coração
Executar seu nobre papel
Juntando o que é da terra
Com aquilo que vem de Deus
Unimos  corpo e  alma
Construindo o próprio céu!
[.] 

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sonho de Íris

De Adriano Antunes, "Sonho de Íris".

No ponto mais alto da montanha
A torre de janelas pequeninas
Observa o entardecer das cores
No lume dos dias
E sonha em vento, livre folha
Fugir de suas dores,
Partir sem despedidas [.]

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O Som do Meu Coração


De Adriano Antunes, "O Som do Meu Coração."

O som do meu coração
Quem diria... sofreria
Na existência, conflitos
No compasso, sobressaltos.

O som do meu coração
Que só agora reconheço
Reaparece devagarinho
Entre dúvidas e tropeços.

No som do meu coração
Residem desde o começo
Leituras do tempo/espaço
Beethovens, Vivaldis e Chopins.

O som do meu coração
Em equilíbrio com o universo
É quadra simétrica, poema perfeito
Sinfonia divina ou singela oração.

Imagem: Google 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Suspenso


De Adriano Antunes, "SUSPENSO."

Pássaro que flutua no ar
Na inexistência da razão
Sobrevoa o chão
Sem sombra a espelhar.

Não cumpre pena
Nem "Karma" sustenta
Movido pelo instinto
Vive o quanto aguenta.

Mas dias existem...
Que seu canto o sol desperta
Com vontades lá de cima

(...)

 de postes, de árvores, de nuvens.


Dias existem... que o pássaro deseja ser astronauta.


                                                                                                         Imagem:  Soichi Noguchi - Quebec city

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Tema 24 - Sentidos Simultâneos

                  
De Adriano Antunes, "Ainda".


Dá-me teu beijo rápido
E teu sorriso tímido
Num abraço úmido
Para eu sentir teu cheiro.

Dá-me tua presença discreta
Em frase curta, incompleta
Silêncio roubado de outros tempos.

Dá-me tua ira controlada
Tua cor sóbria
Tua paz, tua dor
Enfim... Dá-me o que for.

Pois de guarda chuva aberto
No sol que ainda queima
Um coração febril teima
Esperar pelo teu amor.

Hipoteca



O presente é hipoteca do passado e o futuro um investimento de alto risco.
A curto ou médio prazo, aplicando esforços e sentimentos; imaginamos dividendos substanciosos.
Na inflação de desejos inconfessos, analisamos juros para projeções ainda mais complexas.
Mas falta-nos talvez, liquidez.
Lágrimas tristes, lágrimas sadias, condicionando o mercado com a única variante aceitável: o amar.

                                                                                                                   Texto: Adriano Antunes
                                                                                                                   Imagem: Hablandodebolsa.com

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Esboço Íntimo




De Adriano Antunes, "Esboço Íntimo."

Pego meu lápis de cor
E a folha vazia me intimida
Preciso desenhar nova paisagem
Mas meu retrato continua comandando as cores.


Busco referências novas
Traços que ainda não tentei
Combinações inéditas, outros sentidos
Mas volto sempre ao meu arquivo morto.


São as migalhas que deixei no caminho
Seria por medo do desconhecido (?) ou
Necessidade de encontrar meu ponto de fuga?

                                

domingo, 11 de abril de 2010

Tema 23 - Sentidos Simultâneos


De Adriano Antunes, "No Buraco da Fechadura".

[o olho no buraco é tão culpado quanto quem pratica o ato]


Falo dessa chaga
que o povo gosta
dessa praga exposta
da violência e culto ao corpo
que a educação, coitada, não trava
e por efeito oposto
vaga cadeira na fileira
da coerência e do bom gosto.
O povo gosta
e isso não me admira
da rotina alienada
que contamina a retina
promovendo o fútil
eliminando o útil
distorcendo a razão.
Porque o povo gosta
da lama na qual se afunda
da bunda que rebola
da mão que pede esmola
do dedo no gatilho
da arma que atira
e do corpo que apodrece
no meio-fio do dia.
O povo gosta e se entorpece
dos valores e princípios esquece
mais vale ser esperto, é certo,
pois inteligência exige esforço.
O Povo gosta
de lamentar as feridas
que suas mãos manchadas, dedicadas,
esculpiram para si.
Ah! Esse povo gosta!
E nessa ronda desesperada
dou gargalhadas de tristeza
por capricho da natureza
não descarto o fato
de um dia ter sido assim.

quarta-feira, 10 de março de 2010

ETV 04



Proposta de Wolney Fernandes:


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De Wolney Fernandes, "Sonhador em Mares de Realidades Flutuantes".

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De Adriano Antunes, "Quixotesco".

Quisera ser algodão doce
Que na boca derrete
E à infância remete
Gosto de quero mais.
Por vezes, sou nuvem garoa
Que salpica a roupa
Mas não lava a alma.
Noutras, sou bolha de sabão
Circunferências de ausências
Que em segundos se vão.
Posso ser como areia ao vento
Dunas em movimento
Destino incerto, solidão.
Mas acabo breve
Como calor no inverno
Ou Chuva no verão.

Tema 22 - Sentidos Simultâneos


De Adriano Antunes, "Visibilidade Limitada".


(*) Messier 104 também conhecida como Galáxia de Sombrero ou ainda por NGC4594 é uma galáxia distante 28 milhões de anos luz de nós. O objeto está localizado na constelação da Virgem.
Foto: NASA

domingo, 21 de fevereiro de 2010

ETV 03

Proposta de Adriano Antunes:

"Tudo acabado. Queria não ter escrito. Não conte nada a ninguém. - Helen.
Mas Tia Juley já havia partido - partido definitivamente, e nada no mundo seria capaz de detê-la."

E.M.Forster "Howards End" (1910)
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De Wolney Fernandes, "AUSÊNCIAS".


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De Adriano Antunes, “LIGAÇÕES”.

Mas o que ela não sabia
E por certo não esperava
Que seria alvejada
Pela força da palavra.

Abriu o envelope delicado
De amarelo pardo encerado
Que em folha alva dobrada
Exibia o detalhe que faltava:

“Maria da Luz não é sua verdadeira mãe”... dizia

Com injetados olhos de tristeza
Entre espasmos e histeria
Os dedos trêmulos atestavam
Que sua vida mudaria.

De afeto legítimo, registrado
Se possível fosse, faria
Um NÃO tremido, covarde
Daquela frase excluiria.

Ancorado na pequena palavra
O peso de sua história resistia
De um lado o inesperado aguardava
E do outro a certeza lhe sumia.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Tema 21 - Sentidos Simultâneos


De Adriano Antunes, “Promessas.”

Na colcha de renda
Branca e engomada
Chorava abafado
O anjo parido.

Era menina promessa
Que em Divina ciranda
Entrara na roda da vida
Com olhos fechados de medo.
Fez corpo, pintou o rosto
Virou moça faceira
De peitos fagueiros
A desafiar a blusa de seda.
Entre contrações e gemidos
Expondo seu ventre ao mundo
Deu passagem ao rebento
De destino incerto, duvidoso.
Mas hoje, na cadeira de balanço
Recorda o caminho imposto
Qual diálogo sozinho
Que o tempo imperioso
Impunha aos olhos cansados.